quinta-feira, 13 de agosto de 2009

QUESTÃO DE GÊNERO

No bojo do processo civilizador da humanidade, um dos movimentos mais meritórios do período contemporâneo é o da “questão de gênero”, assim chamado o tema da igualdade sexual, procurando reparar o injustiçado sexo feminino, desde que o mundo é mundo.

É muito recente a concepção de que os seres humanos são divididos em dois sexos com características próprias. Até as últimas décadas do século 18, a medicina só admitia a existência de um sexo, o masculino. O que, atualmente, chamamos de sexo feminino era visto como um sexo masculino “frio” e “invertido”. Essa aberração está contada num artigo recente do psicanalista Jurandir Freire Costa (O Lado Escuro do Iluminismo, Folha de São Paulo, Caderno Mais, 11.05.2003).

A questão de gênero está ao lado da ecológica, da defesa dos direitos humanos, da igualdade racial etc. Espero que o Império Americano não destrua tais conquistas como vem fazendo com o princípio do multilateralismo no assim chamado concerto das nações.

A mulher e o homem são diferentes, física e psicologicamente. Não obstante, essas diferenças não podem constituir empecilhos à igualdade entre os sexos. Por paradoxal que possa parecer, embora o reconhecimento dessas diferenças seja fundamental no processo de igualdade, nem por isso há um primeiro sexo (e por conseqüência um segundo), nem tampouco um sexo melhor que o outro, no geral.

Uma das considerações mais interessantes que tive oportunidade de conhecer sobre o assunto é a de que só se atingirá a igualdade plena da mulher com o homem quando uma incompetente puder ocupar uma posição ou um cargo importante. As mulheres que se destacam hoje são competentes, o que não acontece com uma infinidade de homens, que só pela sua condição masculina, estão capacitados a serem guinados a elevadas posições. Isto é um chiste, evidentemente, embora emblemático da situação.

Contudo - e para chegar até a este ponto foi necessário fazer este intróito para bem definir minhas posições - abomino certas presepadas lingüísticas decorrentes do movimento igualitário, que no mais das vezes são rasas demonstrações de feminismo barato.

Por força das características da língua portuguesa, o conjunto “gênero” incorpora o subconjunto “sexo”. A rigor a questão aqui tratada deveria ser conhecida como questão de sexo ou questão sexual. Contudo, por permitir outros entendimentos passou-se a tratá-la como questão de gênero.

Por quê?

O gênero masculino na gramática portuguesa não necessariamente indica sexo. Em alguns casos trata-se de uma definição simplificadora, já que em nossa língua nem todos os nomes e pronomes são neutros quando se referem aos sexos tomados em conjunto. Os pronomes pessoais do caso reto da terceira pessoa do singular e do plural não são neutros (ele, ela, eles, elas), como também os pronomes do caso oblíquo da mesma pessoa (o, a, os, as).

No coletivo, o gênero masculino não é sinal de sexo. Por exemplo: cinco meninos e três meninas brincam “juntos”. Para começar a última palavra já foi para o masculino. Qual o pronome que se usa para se referir ao grupo? Eles. Trata-se de uma simples convenção; um tanto absurda, tão absurda como se fosse o contrário. Mesmo porque se nesse grupo hipotético estiver um menino e dez meninas o pronome continuará a ser “eles”, no masculino. Numa língua onde não existem pronomes do tipo “they” do inglês, há que se escolher um gênero para se referir ao grupo. Poderia ter sido o feminino se a nossa civilização não fosse tão machista, admito.

Por que as urnas eleitorais eletrônicas mostravam “Senador e Senadora”, “Deputado e Deputada”, “Vereador e Vereadora” etc.? Bastaria, no meu entendimento Senador, Deputado, Vereador.

Que tal o bordão: “brasileiros e brasileiras”, do Sarney? Por que não “brasileiras e brasileiros”. Seria pelo menos uma colocação mais cavalheiresca. A propósito, compreendo que o feminismo não elimina o cavalheirismo, como chegaram a pregar algumas feministas fundamentalistas de outrora.

O gênero masculino também serve para o plural dos substantivos. Por exemplo: “braços e pernas cruzados”. A rigor, para quem gosta de Brasileiros e Brasileiras, Senador e Senadora, seria o caso de escrever “braços cruzados e pernas cruzadas”. Faz sentido, mas é preciosismo demais!

Outro aspecto interessante é o gênero das coisas. Por que “a” mesa, “a” cadeira, “o” relógio, “o” prato? Lamentavelmente não temos o artigo equivalente ao “the” inglês, que serve para qualquer gênero e número, tanto para o singular como para o plural. Tampouco o pronome “it”. Essas comparações com o inglês são feitas para melhor transmitir o pensamento aqui exposto sobre o assunto.

O mar é masculino no Brasil e em Portugal. Na França ele é feminino (la mer). Engraçada essa colocação: ele é feminino! Com a palavra os filólogos; tenho a certeza de que estou me imiscuindo em seara alheia.

Portanto, deixemos de firulas e concentremos nossos esforços na efetiva igualdade de oportunidades entre os sexos e não na diferenciação formal dos gêneros no tratamento das pessoas.

O Presidente Lula bem que poderia indicar uma segunda mulher para o Supremo Tribunal Federal! E por que não uma terceira? E uma quarta? E uma...



Genserico Encarnação Júnior

Itapoã, Vila Velha - ES

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