quarta-feira, 18 de junho de 2008

A minha querida professora e amiga e sempre magnífica, Violeta Arraes.

Mesmo sem a sua presença física a senhora sempre estará entre nós, inspirando-nos e nos mostrando o quanto é importante a valorização das coisas da nossa região e ao mesmo tempo mostrando que o planeta é o limite para buscar a realização dos nossos sonhos.

Sentiremos muitas saudades, e guardaremos sempre no coração e na mente, todas as suas lições.

Deixamos nossa pesar a todos que a amaram e lhe admiravam.

Cristiane Duarte Siebra Simões

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Violeta Arrais: vasta trajetória vai da militância de esquerda e do combate à ditadura à dedicação ao setor cultural, no primeiro Governo das Mudanças (Foto: Arquivo)

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O cenário cultural cearense fica mais pobre, com a partida de Violeta Arraes Gervaiseau. A intelectual que dirigiu a Secult e a URCA faleceu ontem, no Rio de Janeiro, aos 82 anos

Internada desde 8 de maio, dia de seu 82º aniversário, Violeta Arraes se despediu ontem, às 7h55. Portadora de câncer de pulmão, faleceu, segundo familiares, vítima de pneumonia e de infecção, no Hospital Copa D´Or, no bairro da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, contando com o acompanhamento de amigos e parentes. Entre eles os filhos Maria Benigna, Henry e Jean-Paul, e o marido, o francês Pierre Maurice Gervaiseau, 83 anos. Uma perda difícil de mensurar, não apenas pela extensão do legado de Violeta na direção da Secretaria de Cultura do Governo do Estado e da Universidade Regional do Cariri, cargos pelos quais costuma ser mais recorrentemente lembrada. Mas principalmente pelo sem-número de causas abraçadas, brigas compradas, projetos realizados e amigos cativados. Da juventude no Cariri aos tempos de militância em Pernambuco, chegando à Europa, onde sua casa, de hospitalidade bem à cearense, era refúgio para brasileiros exilados, como ela, na capital francesa em que Violeta conviveu com intelectuais como Celso Furtado e Jean Paul Sartre.

Nascida em 1926, no município de Araripe, na região do Cariri, Violeta viveu a maior parte da juventude no Município do Crato. Cidade que deverá receber as cinzas de seu corpo, a serem depositadas no mausoléu da família Arraes. Do Crato, onde estudou até a escola secundária, consta que teria saído aos 14 anos, em carroceria de caminhão, na companhia do irmão Miguel Arraes, que protagonizaria grandes papéis na política nordestina e nacional. O rumo tomado? O Rio de Janeiro, onde a cearense cumpriu o curso clássico nos colégios Sacre-Coeur de Marie e Santo Amaro. Ali conheceu o Padre Hélder Câmara, de quem se tornaria colaboradora, a partir da militância no Secretariado Nacional da Ação Católica.

Pela PUC do Rio, Violeta formou-se socióloga. Em uma oportunidade de estágio no Centro Internacional de Economia e Humanismo, dirigido pelo Padre Lebret, a cearense conheceu seu futuro marido, Pierre Maurice Gervaiseau. O casamento aconteceu em 1951, no Recife, onde Violeta militou no Movimento de Cultura Popular - ao lado, entre outros, do revolucionário educador Paulo Freire. Sempre se alternando entre a cultura e a política, participou dos movimentos ligados às Comunidades Eclesiais de Base, das discussões sobre o Cinema Novo e sobre literatura e arte em geral. Enquanto Pierre trabalhava na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, ela atuava na gestão do governador Miguel Arraes, deposto e preso pelo golpe militar, em 1º de abril de 1964. Pierre e Violeta foram presos quando visitavam Dom Hélder Câmara, recém-nomeado bispo de Recife e Olinda. Quatro meses depois, era forçada a abandonar o País, rumo a um exílio sem data para acabar.

Uma casa cearense em Paris

Tranferindo-se para Paris, Violeta Arraes seguiu investindo nos estudos, cursando pós-graduação em Psicologia e trabalhando como psicoterapeuta. Ali sua casa se tornou ponto de encontro para brasileiros em idêntica situação de uma ´temporada um tanto forçada´ na Europa. Como os tropicalistas Caetano e Gil, o jornalista Samuel Wainer e até o ex-presidente Juscelino Kubitschek. Uma casa à cearense, diga-se, com o hábito de receber bem e o costume de armar a rede e de manter à mão livros e objetos de arte popular com referências ao Ceará.

O retorno ao Brasil só se deu com a anistia, em 1979. Já em meados dos anos 80, Violeta atuou como adida ao Projeto França-Brasil, na embaixada brasileira em Paris, realizando eventos como a Exposição de Arte Popular Brasileira, no Museu de Arte Moderna, com grande destaque para a produção de artistas nordestinos.

Secult e URCA

Convidada para assumir a Secretaria de Cultura do Governo do Estado em 1988, no primeiro governo de Tasso Jereissati, Violeta Arraes manteve um discurso de procurar ir além da produção de obras e eventos, desenvolvendo um conceito mais amplo de cultura - para além dos produtos culturais. Já em 1997 assumiu a Reitoria da Universidade Regional do Cariri (URCA), para a qual já contribuíra em bandeiras como a defesa do reconhecimento da Chapada do Araripe como área de proteção ambiental. Ali permaneceu até 2003, mantendo a ênfase em uma atuação que, transcendendo a academia, reforçasse a cultura cearense. A mesma que agora se vê entristecida com sua adeus.

PENSAMENTOS

'Sou a última irmã de sete filhos. Tive todas as vantagens e desvantagens de ser a última´

'Meu irmão Miguel Arraes teve uma grande influência na minha formação´

'Meu grande choque cultural não foi a Europa, mas sim o Rio. Sair do interior para morar numa capital daquele tamanho me chocou muito´

'Uma das catástrofes do Brasil foi o esvaziamento do interior, por uma visão de desenvolvimento desvirtuada e pela falta da reforma agrária´

'Não tenho nada contra os Estados Unidos, um grande país, mas esta macaquiação, nas praias, nos bares, é de um mau inglês. Nossa língua é desvalorizada´

'Ninguém sabe o que é estar na sua casa, na sua terra, e ser colocada para fora. É um trauma muito violento´

'Sair teve seu lado positivo porque me fez ter consciência da formação que tive em casa e na universidade, sentindo-me, além de sertaneja, cidadã do mundo´

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